À Sombra dos Eucaliptos

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A Testa Iluminada

| 7 Comentários

Nasci em 1970 e cresci com o imaginário que meu pai criava com o Internacional vencedor daquela década. Tenho recordações mais vívidas de 1978 em diante mas a imaginação do que veio antes povoa minha mente até hoje. Daltro Menezes, Ibsen Pinheiro, Balvé, Claudiomiro, Figueroa, entre outros, se misturam com aqueles que assisti pela TV ou vi atuarem no estádio, como Falcão, Valdomiro, Jair e outros. 

Muitos deles tinham poderes que aumentavam a cada história. O cotovelo de Figueroa, a patada do Bigorna, as artimanhas dos mandarins, os dribles de Carpegiani, a altivez de Falcão, os chutes potentes de Valdomiro, meu pai descrevia todos eles com mais ou menos teatralidade. Entre todos estes super-poderes existia um que ele se expressava mais escancaradamente, mexendo a cabeça pra frente e a inclinando de tal modo que uma cabeceada invisível se desenhava. Era a cabeça de Escurinho.

Escurinho era a última bala do revólver de Clint Eastwood quando parecia que o mau e o feio já estavam com as mãos nas sacolas recheadas de ouro dos confederados. Quando aquele colossal grupo formado nos anos 70 e em sua fase mais áurea comandado por Rubens Minelli chegava à exaustão das tentativas em varar as cada vez mais fechadas defesas adversárias, um homem surgia na linha lateral com a camiseta com o número 14 às costas e a torcida urrava estremecendo o Guaíba de tal modo que um tsunami varria a Lagoa dos Patos e inundava a praia do Laranjal. Este homem era Escurinho.

A partida quase sempre já se aproximava de seu final entendiante. Aquele homem se adensava entre o meio de campo e a área adversárias e especulava sobre o momento ideal para que um dos pontas, Valdomiro ou Lula, ou uma jogada mais cerebral de Falcão ou Carpegiani, encontrasse sua testa iluminada e do escuro nascesse a luz que cegava os goleiros e zagas inimigas. Era testa de Escurinho e gol do Inter. Nada mais justo que no retorno deste espaço eu homenageasse um grande colorado recentemente falecido pelas memórias daquele que pra mim foi o maior colorado de todos os tempos: meu pai.

FOTO: Telmo Cúrcio da Silva

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7 Comments

  1. E (re) iniciam-se os trabalhos nesta SELETA seção.

    Maravilha.

  2. Porque aqui, aqui é o meu lugar.

    RC

  3. dale! tava com saudades dessas colunas, até matei a saudade um tempo no ‘celeiro de frases’, mas agora vai!

  4. Maravilha a volta dessas colunas, fazia muita falta ao site, parabéns pelo texto. Muito Bom!

  5. Ainda bem, vocês voltaram para salvar este site.

    Sejam bem vindos.

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